Axixá do Tocantins tem pouco mais de 9 mil habitantes. É uma cidade pequena, onde o dinheiro público deveria ser tratado como coisa rara. Onde cada escolha pesa. Onde cada real mal aplicado faz falta lá na frente. Talvez por isso a tentativa de gastar R$ 1,1 milhão em um show tenha causado tanto incômodo e não só na população, mas no próprio Tribunal de Contas do Estado.
A suspensão do evento não caiu do céu. Ela acontece em um município que convive com problemas básicos e antigos, muitos deles já apontados oficialmente pelo TCE em relatórios e alertas. Axixá enfrenta dificuldades na saúde, com cobertura vacinal abaixo do ideal, fragilidades na atenção básica e indicadores sociais que não combinam com gasto milionário em festa. Em cidade pequena, posto de saúde fechado ou sem médico não é estatística: é problema diário.
Na educação, os alertas também existem. O município já foi notificado por não cumprir corretamente a aplicação mínima de recursos na manutenção e desenvolvimento do ensino. Isso significa menos investimento em estrutura, em materiais, em condições dignas para alunos e professores. E ainda assim, a prioridade parecia ser o palco, não a sala de aula.
O cenário fiscal tampouco ajuda. Axixá acumula restos a pagar, convive com dívidas previdenciárias e apresenta gasto com pessoal acima do limite legal. Na prática, isso significa orçamento engessado, menos margem para investir no que realmente importa e mais risco de colapso financeiro. Mesmo assim, alguém achou razoável comprometer mais de um milhão de reais em um único evento.
Some-se a isso os problemas de infraestrutura, comuns a municípios do porte de Axixá: ruas que ainda precisam de melhorias, serviços públicos limitados, falta de investimentos estruturantes e uma população que cobra o básico antes do extraordinário. Em cidade pequena, ninguém pede luxo. Pede funcionamento.
“Por um minuto de emoção”, quase se normalizou o absurdo. Porque festa chama atenção, rende foto, gera aplauso. Mas não resolve fila, não paga dívida, não vacina criança e não garante aula. Show acaba em poucas horas. Os problemas ficam.
Nada disso é opinião solta. O próprio Tribunal de Contas, ao suspender a contratação, levou em consideração a realidade fiscal e social do município, destacando que o gasto era desproporcional diante do cenário enfrentado por Axixá. A informação está disponível em publicação oficial do TCE/TO, no site institucional do órgão:
https://www.tceto.tc.br/tce-suspende-show-de-r-11-milhao-em-axixa-do-tocantins-por-falhas-na-contratacao-e-possivel-sobrepreco/
As referências musicais feitas ao longo do texto pertencem aos seus autores e intérpretes e são usadas apenas como recurso cultural e crítico, sem reprodução integral de letras, conforme autoriza a Lei nº 9.610/1998, especialmente em seu artigo 46, que garante o uso para fins jornalísticos e opinativos:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm
Este artigo também não foi escrito de forma aleatória. Ele é baseado em fatos públicos, documentos oficiais e informações divulgadas por órgão competente. Opinar com base em provas não é ataque, é cidadania. Questionar gastos públicos não é perseguição, é dever. E cobrar transparência não é opção é obrigação democrática.
É papel da população perguntar, fiscalizar e se indignar quando algo parece fora do tom. Mas é também papel do jornalista levantar essas questões, provocar o debate e não deixar que decisões questionáveis passem despercebidas. Jornalismo não existe para agradar gestão nenhuma; existe para servir à sociedade.